terça-feira, 19 de maio de 2020

17 de maio, data que marca a importância da luta contra a homofobia

Ser LGBT numa sociedade heteronormativa e cisnormativa não é fácil. 

Desde pequenos somos obrigados a agirmos de acordo com o que nossa genital representa. Se nascermos com um pênis, seremos classificados como meninos, logo ganharemos carrinhos, bonecos de luta, bolas, seremos representados pela cor azul, seremos forçados a gostar de meninas e somos ensinados desde cedo a não demonstrar fraqueza, pois segundo a sociedade "chorar é coisa de mulherzinha ou de bicha" e por outro lado, se nascermos com uma vagina, seremos classificados como meninas, logo ganharemos bonecas, casinhas, panelinhas, maquiagens, automaticamente seremos representados pela cor rosa além de sermos forçados a gostar de meninos (mas nesse caso só depois dos 15). E desde cedo somos ensinados que mulher é sensível, deve se comportar na passividade, sempre precisará de uma figura que a completa e que essa figura na maioria das vezes é uma figura masculina.

A heteronormatividade, a cisnormatividade e o machismo são construções sociais, pois desde antes de nascermos, a sociedade é programada para agradar um patriarcado boçal que tenta impor como devemos viver, quem devemos ser e amar. 

Acontece que essas regras impostas não leva em conta a diversidade da natureza humana, cada um tem um gosto, nasce de um jeito, ama de um jeito ou de vários jeitos e que essas regras de exigir que todos sejamos iguais e que devamos seguir uma norma, se  basea num projeto de controle social pelo patriarcado, feito por pessoas que desejam manter o poder numa sociedade, e por isso é algo forçado, pois a pluralidade é da natureza humana.

A HETEROCISNORMATIVIDADE é uma forma de manter o poder de controle social

É evidente que a religião é um grande fator que faz com que essa imposição heterosexual e cisgenero seja imposta na sociedade. Não cabe a mim fazer julgamentos de religião A, B ou C, não estou generalizando, quem faz a religião é o indivíduo, há pessoas e pessoas, nem todo evangélico por exemplo é LGBTfobico, e o principal mandamento de Jesus Cristo é amar o próximo como a ti mesmo, mas o que infelizmente a gente ver na sociedade principalmente em determinados setores que se dizem cristãos são os discursos de ódio, bastante diferente dos mandamentos de Cristo. 

Além do fator religioso, que domina uma sociedade e a maneira de pensamentos de um indivíduo, temos a questão do consumo, o modelo heterossexual é um modelo mais fácil de reproduzir a espécie humana e o capitalismo necessita que haja mais pessoas no mundo para que possa haver maior consumo. Porém para as elites pouco importa se o indivíduo vai passar fome, ter uma casa, desde que ele seja mais um para gerar riquezas para os poderosos e esse é um dos motivos que homossexuais por exemplo sejam uma ameaça para o sistema.

Como a heteronormatividade e a cisnormatividade são estabelecidas?

Desde cedo, somos obrigados a assistir nas novelas, filmes abertos, desenhos, quadrinhos, jornais, revistas em que o amor só pode ser realizado entre um homem e uma mulher, somos obrigados a ver cenas de afetos, romances, casamentos e até sexo explícito (em alguns casos) heteronormativos pois para a sociedade, só existe uma forma de amar "normal", a heterossexual e quem não se adequa a essa norma, principalmente gays e lésbicas são vistos e tratados como "doentes" e "seres abomináveis". Além disso, desde pequenos somos forçados e a sociedade nos impõe que só podemos namorar, amar é transar com quem for do sexo oposto ao nosso, que no futuro teremos que casar apenas com mulheres se formos homens e homens se formos mulheres. Sem contar que se a criança nascer com um pênis, desde cedo ela será incentivada e obrigada a ter "namoradinhas" e ser o "garanhão" (mesmo sendo crianças). Ao contrário das crianças que nascem com vaginas que nesse caso só poderam namorar depois dos 15. 
Essa norma de imposição de relacionamentos heteros e da heterossexualidade na sociedade, se chama HETERONORMATIVIDADE. 

O impacto da heteronormatividade e a cisnormatividade na vida das pessoas

O indivíduo que nasce com a identificação do sexo biológico que lhe é atribuído e se apaixona por pessoa dos seus sexos biológicos opostos, este não sofrerá com a heteronormatividade e a cisnormatividade pois terá toda a representação de sua natureza que está de acordo com padrão aceitável pela construção social, ou seja, serão indivíduos privilegiados. O grande problema ocorre, quando o indivíduo que sente atração por pessoas do mesmo sexo, ou não se identifica com o gênero que a sociedade tenta lhe impor através do sexo biológico, não se sentirá representado pelas construções sociais estabelecidas pela heteronormatividade e cisnormatividade, logo gays, lésbicas, bissexuais (em relacionamentos com pessoas do mesmo sexo), mulheres e homens transexuais, travestis, não-binaries, assexuais etc.. desencadearão transtornos graves, causados pela não representação social, pela exclusão e a marginalização.
 
O suicídio e transtornos mentais em pessoas LGBTs, sobretudo os jovens 

Nós LGBTs por sermos rejeitados pela sociedade, família - muitos de nós somos expulsos de casa-, empregos, sofrermos rejeição por amarmos pessoas do mesmo sexo e não podermos muitas das vezes expor nossos sentimentos por conta da repressão social e o medo da violência dos pais, das sociedades e do que a LGBTfobia pode causar na nossa vida, tendemos a ter transtornos psicológicos e mentais maiores que os heteros e cisgeneros. Se um adolescente em si já passa por sérios transtornos pela mudança de hormônios, etc, imagina um adolescente e jovem LGBT onde os transtornos são quadruplicados? 

Segundo a CARTA CAPITAL, foi realizado um estudo nos Estados Unidos onde diziam que adolescentes e jovens LGBTs tem 3 vezes mais chances de pensarem em suicídio e 5 vezes mais chances de coloca-los em prática. Trágico e assustador mas é uma realidade que é ignorada e diminuída ou até silenciada.
Esse estudo também indica que os jovens LGBTs além de terem mais chances de cometerem suicídio também têm mais chances de se viciarem em drogas lícitas e ilícitas, bebidas alcoólicas e também a ISTs e gravidez precoce. Isso acontece pois, como esses jovens sofrem decepções, desamparos, discriminações e observam a crueldade desse sistema injusto e preconceituoso, além de não se verem representados nele, tendem então a buscar sentidos ou prazeres na vida que muitas das vezes encontram nas drogas uma forma de fugir dessa realidade cruel heteronormativa, cisnormativa e LGBTfobica.


A HETERONORMATIVIDADE e a CISNORMATIVIDADE são os agentes que formam a LGBTFOBIA 

A partir do momento em que o indivíduo é forçado por uma norma de que o "normal" é o homem se relacionar com mulher e a mulher se relacionar com o homem, pois segundo esse pensamento o homem foi feito pra mulher e a mulher para o homem, ou o que o sexo biológico de nascença é o que o fará homem ou mulher, os indivíduos que não se adequam a essa norma que é imposta pelo patriarcado é marginalizado e começa a sofrer perseguições. A homofobia existe por conta da heteronormatividade, assim como a transfobia existe pela cisnormatividade e a transmisoginia existe pelo fato da mulher trans não ser tratada como uma mulher, que de fato ela é. 
Ninguém é igual a ninguém, assim como existe a norma heterossexual, cisgenero, existe a norma branco racial e a norma da masculinidade, os indivíduos que nascem homem terão os privilégios masculinos, os indivíduos que nascem brancos, terão os privilégios raciais, os indivíduos que nascem heteros, terão os privilégios de sexualidade e os indivíduos que nascem cisgeneros terão os privilégios de gênero. 
A Heteronormatividade e cisnormatividade mata pois ela são as causas da práticas LGBTfobicas.

A hipocrisia social em relação à população LGBT

Temos poucos espaços na sociedade e sempre que ocupamos um espaços, somos vítimas de discursos moralistas e odiosos vindo principalmente dos conservadores. 
Um exemplo disso é que dificilmente nas novelas aparecem casais LGBTs ou LGBTs e quando aparecem são alvos de várias críticas, além de sermos unanimidades quando aparecemos. Dificilmente protragonizamos. Assim como quando um negro aparece nas novelas, são estereotipados como empregados domésticos, traficantes, bandidos, alcoólatras, o gay quando aparece nas novelas é estigmatizados como bichas estéricas, estereotipadas, ridicularizadas como é o caso do Crô da novela fina estampa de 2011 que está em reprise na Globo as 21 hs por conta da pandemia de coronavirus. Nessa novela, os cancervadores e bolsonazistas achavam graça e não fizeram críticas, diferente por exemplo da novela amor à vida (2013) onde mostra um romance entre Félix e Nico que protagonizaram o primeiro beijo gay da história da televisão, e foi um escândalo. 

E por falar nisso, os mesmos falsos moralistas que diziam que o casal gay e o amor do casal nessa novela estava destruindo a família, os bons costumes, eram os mesmos que em Avenida Brasil  (2012) achavam lindo que o Cadinho tinha 3 mulheres e ninguém reclamava que estava destruindo " a família tradicional", "a moral e os bons costumes". 
Isso não foi a primeira vez e nem a última que que a globo tentou colocar um casal LGBT na novela e os LGBTs foram vítimas da hipocrisia dos conservadores, as novelas "torre de babel"(1995), duas lésbicas tiveram que ser assassinadas num incêndio por receber graves rechacoes do público. Fato é que toda vez que conseguimos um espaço seja aonde for, recebemos críticas e somos vítimas discursos hipócritas, falso moralistas e fakenews, um exemplo atual é o presidente nazista que teve como um cabo eleitoral discursos LGBTfobicos que é o que infelizmente o povo abraça e aceita.

NOSSOS DIREITOS FORAM CONQUISTADOS COM MUITA LUTA

Historicamente, nós LGBTs sempre fomos perseguidos. Na idade média por exemplo éramos classificados como pederastas e éramos condenados. Até o século 20, a prática homossexual era crime e doença pelo mundo, e eram usados os castigos mais severos e cruéis para nós condenar, em 2020 pelo abusurdo que pareça a homossexualidade ainda é crime em muitos países, vários países ainda não legalizaram o casamento LGBT e não aprovaram a criminalização da LGBTfobia. 

No Brasil, conseguimos depois de 16 anos aprovar a criminalização da homofobia que é a PL 122 proposta em 2003 no primeiro ano do governo do PT. Ou seja por mais que a partir daquele período houve um avanço progressista, a bancada conservadora e fundamentalista não aceitaram o avanço do projeto que criminaliza o ódio a LGBTs, somente depois de 16 anos de tramitação, a LGBTfobia foi criminalizada numa decisão acirrada pelo STF. Ou seja, foi uma conquista histórica por nós LGBTs e além disso foi um sinônimo de resistência não só por todas as nossas lutas históricas por justiça mas também por estarmks no auge desse desgoverno nazista e LGBTfobico.

Portanto a década de 2010 foi uma década importantíssima para que pudéssemos alcançar conquistas históricas. Em 2013 conquistamos o direito ao casamento civil igualitário, no dia 05 de junto de 2019, conseguimos através de muita luta aprovar a criminalização da LGBTfobia que impõe ao agressor uma pena, seja por multa, seja pela cadeia. 

Todos esses avanços como sempre acontecem em todos os movimentos sociais, causaram uma revolta de setores conservadores, fundamentalistas, nazistas e elitistas, além de muitas fake News, sobretudo pelo Bolsonazi que foi eleito com um forte discurso homofobico e com as invenções criminosas do "kit gay" e da "mamadeira de piroca", entre outros.

Se hoje temos o pouco dos direitos que conquistamos, devemos agradecer aos LGBTs do passado que lutaram por nós, as afeminadas, travestis, as negras, lésbicas, gays, bi, trans, mulheres trans, artistas que deram a cara a tapa para lutar pelos nossos direitos e enfrentar esse sistema mesmo numa época em que a nossa luta era atacada pela direita e silenciada pela esquerda. 

Vale ressaltar que se não radicalizassemos nossas lutas no passado, hoje não estaríamos nem podendo trocar afetos com quem amamos ou sendo quem somos, assumindo nossas identidades. Graças as lutas dos nossos guerreiros, sobretudo de Stonewall, onde a luta LGBT de fato ganhou início no final da década se 60, hoje não teríamos conquistados embora que bem tardiamente o respeito da OMS que em 1990 desclassifivou a homossexualidade como doença e que muito mais tarde, em 2017, desclassificou a transexualidade como doença mental.

Nunca foi foi fácil pra gente, em 1969 a luta começou em Stonewall, em 1970 ocorreram as primeiras paradas pelo mundo, porém enfrentamos a violência e os estigmas de patologia, na década seguinte, 1980 enfrentavamos nosso maior vilão da história a Aids junto com o preconceito que associava os LGBTs à doença e isso caiu como uma luva para os conservadores e para os homofobicos que tinham mais um motivo para nos matar. Alem disso essa doença levou vários dos nossos e que lutaram ao nosso lado. 

A criminalização da LGBTfobia é importante mas é o único caminho?



A importância dos artistas e da própria  arte na luta LGBT

Artistas LGBTs como Cazuza, Ney Matogrosso, Freddie Mercury, Cassia Eller, Renato Russo, David Bowie, entre outros  foram extremamente importantes para as nossas lutas, visto que as nossas lutas eram um tabu até para a oposição de esquerda que diferente de hoje, antes reproduzam a LGBTfobia. E assim como hoje artistas como Pabllo Vittar, Ludmilla, Glória Groover, Liniker, Lin da Quebrada, Johnny Hooker, Gabriel Nandes, Bruno Gadiol, Maria Gadú, Ana Carolina, entre outros são importantíssimos para a nossa existência e luta.


 

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